Aline

Felipe Porto
2 min readAug 13, 2022

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Escrever sobre meu passado me parece um exercício legal, dica boa que aprendi na análise, mas não é sempre que tenho o ímpeto, a confiança e autoestima de sentar e escrever, mas faço isso como um registro pessoal, quase como no twitter, onde é meio que falar sozinho.

Ano de 2004, cursava a antiga 7º série, tinha treze para quatorze anos, gostava de desenhar, assistir a série Malcolm In The Middle, ouvir jogos do São Paulo na rádio Transamérica e meu CD favorito era o Acústico MTV Ira!.

Frequentar a escola era um desafio, Escola Municipal Carlos Chagas, onde eu fazia de tudo para não ser notado, o bullying era pesado, na maioria das vezes se houvesse reação era porrada na saída com a participação de uma galera mais velha do bairro que frequentava o portão da escola. Então tentava ser amigável, mas sem me empolgar, tentando não chamar a atenção, sabendo a hora de me retirar das brincadeiras para que elas não virassem pra mim (certa vez só consegui escapar de um cuecão generalizado com todos os meninos da sala convencendo que iria me machucar por conta de uma cirurgia de apêndice, mesmo fazendo três anos da operação). A melhor parte era o trajeto até a escola, uma caminhada de meia hora onde eu ouvia a Rádio Mix num Walkman de fita que só funcionava a função rádio.

Mas existia alguém na escola que me chamava a atenção, a menina morena do 8ºano. Eu a via nos intervalos, mas não sabia nada sobre ela, além de sempre usar uma camisa branca com estampa de pano de prato e ter uma cicatriz charmosa na sobrancelha esquerda. Depois de um bom tempo descobri que ela se chamava Aline, porque um dos meus amigos era colega de alguém da turma dela, esse colega disse também que ela tinha um namorado que estudava em outra escola e era do ensino médio, foi um dia triste. Eu tinha certeza que estava apaixonado, mesmo sem saber o que era isso, algumas vezes sentava perto no refeitório pra tentar saber mais sobre ela, ouvir a voz e quem sabe, ser notado. Nunca aconteceu. Algo me bloqueava, uma mistura de vergonha, medo, insegurança, tudo isso foi mais forte que a vontade que eu tinha de dizer que gostava dela. Aquele ano acabou, ela foi fazer o ensino médio em alguma outra escola e não tive mais notícias e ela, obviamente, nunca ficou sabendo da minha existência.

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